Cerca de 71,2% dos empregadores do setor de construção civil relataram dificuldades em contratar trabalhadores qualificados entre junho de 2023 e junho de 2024, segundo a Sondagem da Construção, realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE).
De acordo com enquete produzida pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) em 2023, 7 em cada 10 construtoras sofrem com a falta de trabalhadores.
A escassez de mão de obra, especialmente de eletricistas, soldadores e pedreiros, preocupa cada vez mais e gera impactos significativos na produtividade e nos custos das obras.
A falta de trabalhadores qualificados restringe o crescimento do setor, resultando em atrasos nos prazos, aumento de custos e menor produtividade nos canteiros de obras tradicionais.
Para entender mais sobre este cenário e compreender algumas alternativas de combate a este desafio, continue acompanhando a leitura.
Escassez de mão de obra na construção civil: um desafio conhecido
Não é de hoje que a falta de profissionais para o setor da construção preocupa.
Um estudo da Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), realizado em parceria com a Escola Politécnica da USP em 2007, já alertava para esse cenário.
Na época, destacava-se a falta de motivação para se trabalhar na construção civil, atribuída aos baixos salários, condições precárias de contratação, ambientes insalubres e ao alto desgaste físico da atividade.
Esses fatores ainda persistem e continuam desestimulando o ingresso de novos profissionais no setor.
A verdade é que o pedreiro de hoje não deseja ver seus filhos seguindo no mesmo caminho, buscando outras formações e profissões para prosperar na vida adulta.
Agora, é necessário pensar o desafio de forma macro, não somente no âmbito da construção, mas na sociedade de forma geral, buscando alternativas para tornar os trabalhos mais atrativos, valorizados e capacitar os profissionais para seguir na área.
O envelhecimento da mão de obra
Outro desafio para a construção civil é o envelhecimento de sua força de trabalho. Dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) revelam que, em 2004, a idade média dos trabalhadores do setor era de 36,1 anos. Em 2013, esse número subiu para 38,3 anos e em 2023 alcançou 42, um número que continua em tendência de alta.
Longe de ser um problema exclusivo da Construção Civil, o envelhecimento da mão de obra é uma realidade nacional presente em todos os setores, incluindo comércio, serviços e agricultura.
Isso evidencia a baixa renovação geracional, resultado do desinteresse dos mais jovens pelas funções operacionais. Expressões como “o filho do mestre de obras quer ser engenheiro” ou “o filho do pedreiro não quer ser pedreiro” refletem essa realidade e mostram a urgência de atrair novos perfis para o setor.
Uma alternativa para isso pode estar em investir em saúde e segurança do trabalho, oferecer programas de capacitação e adotar políticas de flexibilização, atraindo o público mais jovem para o setor.
Alternativas de enfrentamento à escassez de mão de obra
O desafio da escassez de mão de obra na construção civil está posto. Agora, cabe às entidades do setor, empresas e a própria sociedade buscar alternativas para atrair novos públicos para o canteiro de obras.
Investir em tecnologia, na modernização dos canteiros, na industrialização e capacitação, podem ser algumas alternativas, como você pode conferir a seguir.
Industrialização
A industrialização surge como uma alternativa estratégica para enfrentar a escassez de mão de obra na construção civil. O setor industrializado se destaca por oferecer um ambiente mais estruturado, com processos contínuos, o que contribui para maior retenção de talentos e desenvolvimento profissional. Além disso, práticas voltadas à segurança, saúde ocupacional e qualidade de vida ajudam a reduzir a alta rotatividade de trabalhadores.
Dados do estudo “Práticas de Gestão de Pessoas na Construção Civil”, lançado em 2023 por SindusCon-SP e Falconi, reforçam a importância dessas medidas. Frente à crescente falta de profissionais, o setor deve investir em automação e tecnologia, incluindo robotização, para manter a produtividade. A escassez atinge tanto a mão de obra operacional quanto a intelectual, especialmente em áreas como projetos, que sofrem com a evasão de jovens talentos diante da falta de estímulo e remunerações pouco atrativas.
Países como Japão, Alemanha e Suécia já avançaram significativamente com a construção industrializada. No Japão, por exemplo, empresas como a Sekisui House utilizam linhas de produção automatizadas e módulos pré-fabricados que permitem construir uma casa em poucos dias, com alta precisão e baixo desperdício.
Na Alemanha, o uso de elementos pré-moldados de concreto é comum, resultando em obras mais rápidas e com melhor controle de qualidade. Já na Suécia, a construção off-site, com painéis de madeira industrializados, é amplamente adotada em empreendimentos residenciais.
Esses modelos, além de combaterem a escassez de mão de obra, melhoram a eficiência, reduzem custos e atraem novos perfis para o setor.
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Capacitação
A escassez de profissionais qualificados está diretamente ligada à falta de programas de formação técnica acessíveis e alinhados às demandas atuais do setor. Com o crescimento dos investimentos em infraestrutura, a procura por mão de obra especializada aumentou, mas a oferta não acompanhou o ritmo.
Além disso, muitos trabalhadores migraram para outras áreas por falta de perspectiva e valorização. Para reverter esse cenário, é fundamental investir em qualificação contínua, por meio de parcerias entre empresas, setor público e instituições de ensino, oferecendo cursos técnicos, treinamentos práticos e incentivo à certificação.
Iniciativas como o programa Qualificação nos Canteiros de Obras, do SindusCon-SP em parceria com o Senai-SP, têm mostrado resultados positivos ao oferecer cursos gratuitos de curta duração, entre 40 e 80 horas, abordando serviços como revestimento com placas cerâmicas, execução de fôrmas de madeira e armação para estruturas de concreto.
Outro exemplo é o Construindo o Futuro, promovido em Pernambuco pelo Sesi e Senai, que capacita jovens em situação de vulnerabilidade social para atuação em obras, aproximando novos talentos do setor. Essas ações não apenas preparam a mão de obra, como também ajudam a valorizar a carreira na construção civil e a reter talentos nas obras.
Valorização da atividade econômica
Combater a escassez de mão de obra na construção civil passa também pela valorização da atividade como um todo. É fundamental mudar a percepção sobre o setor, promovendo melhores condições de trabalho, remuneração justa e possibilidades reais de crescimento profissional.
Campanhas de comunicação, ações de responsabilidade social, programas de benefícios e reconhecimento de boas práticas ajudam a tornar a construção civil mais atrativa, principalmente para os jovens que buscam estabilidade e desenvolvimento.
Além disso, a formalização do trabalho, com garantias legais e previdenciárias, também contribui para tornar a profissão mais digna e respeitada.
É urgente tornar os canteiros de obra mais saudáveis e estimulantes para os profissionais, além de atrair pessoas com diferentes perfis, incluindo jovens e mulheres.
As empresas podem criar planos de bonificação, melhorando a remuneração dos trabalhadores dos canteiros e planos de carreira para oferecer perspectiva de crescimento aos profissionais.
Conclusão
A mão de obra na construção civil é um problema estrutural e multifatorial que impacta diretamente a produtividade, os custos e o futuro do setor.
Para enfrentá-lo, é necessário adotar uma abordagem integrada, que inclua investimento em industrialização, qualificação profissional e valorização da carreira no setor.
A transformação passa por inovação, inclusão e estratégia. Quanto antes o setor agir, maiores serão as chances de garantir mão de obra qualificada, produtiva e engajada para construir o Brasil do futuro.